Mais conhecida por seus trabalhos
independentes, como em Songs My Brothers Taught Me (2015), a diretora Chloé
Zhao está de volta, agora com uma obra prima que se chama Monadland. Em seu
novo longa a diretora chinesa, que também atua como produtora e roteirista, nos
traz uma parte cultural e social dos Estados Unidos que não é muito explorada
em filmes, onde pessoas que são conhecidas como nômades, por viverem em
trailers e passarem pouco tempo no mesmo lugar, sempre alternando de cidade e
estado, procuram novas experiências e oportunidades de vida de maneira
descompromissada e leve.
Protagonizado por Frances Mcdormand
(Fargo), a história é envolta ao redor de Fern, uma mulher de meia idade que
acabou de perder o seu marido, por isso abre mão de seus bens para viver
andando ao redor do mundo com o seu trailer, explorando o mundo e fazendo todas
as coisas que não pôde fazer enquanto estava casada.
O grande acerto do roteiro é evidenciar
os prós e contras da radical decisão da personagem, por mais que a intenção
pareça extraordinária, quem nunca sonhou em viver viajando? Também é mostrado a
situações precárias pelas quais na maior parte do tempo essas pessoas são
submetidas a passar, como ao chegar em um lugar frio e não ter como se
esquentar decentemente ou quando elas são literalmente enxotadas dos lugares
que estacionaram o seus trailers por terem parado em um local não permitido.
Muitos também acabam perdendo eventos importantes relacionados às suas famílias
por terem as deixado.
Ver como uma comunidade nômade funciona
é instigante, o filme cumpre com essa proposta muito bem. Somos inseridos ao
universo deles e levados a crer que todo mundo deveria, pelo menos uma vez na
vida, por um curto período de tempo, se sujeitar a ter uma experiência do tipo.
Existe uma ética, um respeito e um
senso de responsabilidade muito grande de um com o outro quando essas pessoas
se reúnem. Não existe desperdiçar apenas o dividir e o reaproveitar , o que não
serve mais para mim poderá servir para o outro, em suma, como a sociedade
padrão deveria funcionar.
O elenco é variado, tem bons atores, mas
ninguém que realmente me fizesse querer levantar da cadeira e aplaudir. Frances
é o foco e está excelente, eu diria que é quase cem por cento de certeza que a
atriz será indicada ao Oscar, afinal ela carrega todo o filme nas costas, tendo
em vista que a história consiste basicamente em viagens e belas paisagens.
A fotografia do filme é linda, os lugares
pelos quais eles passam são exuberantes. A produção é simplória, as cenas foram
gravadas com tantos poucos recursos que passam uma veracidade de que estamos
vendo uma espécie de documentário.
A cereja real do bolo está no fato de
Chloé, como roteirista, ter tido a diligência e zelo de mais do que nos
apresentar o percurso pelo qual Fern e seus amigos caminham, também nos expor
as motivações de cada um para estarem onde estão e porque estão. A maioria
deles, assim como Fern, também perderam alguém, também perderam algo e mesmo os
que não perderam, estão neste caminho para encontrar algo maior, a si mesmos,
uma filosofia de vida, de repente, suprirem o imenso vazio oriundo de uma inquietação
inerente à alma humana. Uma mesma inquietação que todos nós facilmente
conseguimos nos identificar.
Eu não serei hipócrita, por mais
profunda e especial que seja essa mensagem central do filme, de se desprender
dos bens materiais, reavaliarmos os nossos valores, desconstruirmos nossas
certezas, etc.. No final das contas tive muita dificuldade de me concentrar no
filme, eu sinto que muitas cenas são jogadas, sem ter conexão umas com as
outras, formando um compilado de situações aleatórias e que servem para
preencher lacunas que eu não acho que teriam necessidade. A falta de movimento,
também me chateou um pouco porque eu cochilava e tinha que voltar toda hora,
algo sobre a mixagem de som ou edição de som, simplesmente me deixava ainda
mais sonolento (me julguem) e chegou um ponto do longa que a única coisa que eu
queria era que o filme chegasse ao fim e eu pudesse desligar o computador e
dormir. Se for para assistirem, assistam de pé, com dois palitos nos olhos.
rs...
Brincadeiras à parte, eu sei que tudo
isso que eu mencionei acima são aspectos propositais do filme que optou por uma
abordagem mais amena e intimista, mas deve ser levado em consideração de
qualquer maneira, visto que o desenvolvimento de um filme é o que segura o
espectador e Nomadland peca na falta de tempero.
Favorito de muitos críticos, o filme
foi indicado ao Globo de Ouro 2021 nas categorias de Melhor Filme de Drama, Melhor
atriz em filme de drama (Frances McDormand), Melhor direção (Chloé Zhao) e Melhor
roteiro. Sendo super cotado em outras premiações que ainda não tiveram seus
indicados revelados, como o Oscar e SAG Awards.
E vocês, o que acharam de Nomadland?
Vai levar tudo no Globo de Ouro? Vai arrasar? Deixe o seu comentário.
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