Dirigido e roteirizado por Emerald
Fennell (Killing Eve), o longa produzido por nomes como Margot Robbie, nos
introduz Cassie (Carey Mulligan), uma jovem que sonhava em ser médica,
entretanto é obrigada a largar a faculdade e voltar a viver com os seus pais
quando uma situação traumática ocorre em sua vida.
Pelo menos uma vez por semana, Cassie
vai até uma espécie de boate e lá se passa por bêbada para atrair homens e ver
o quão longe eles irão, tendo em vista o seu estado de
"vulnerabilidade".
O filme é multigênero e nos traz cenas
de drama, comédia, romance e tem até um quê de thriller, todos muito bem
trabalhados por sinal. A produção teve todo um cuidado com a fotografia, com a
palheta de cores que sempre nos remetem aos tons pastéis das unhas da
protagonista e o seu figurino ousado e fora dos padrões.
O roteiro é dinâmico, bem ritmado, tem
movimento e nele existe uma jovialidade ao contar a história.
Ao mesmo tempo em que trata de temas
pesados os fazem de uma maneira leve, descomprometida e o mais importante,
didática. Digo didática, pois o filme não hesita em nos mostrar a verdade nua e
crua da realidade feminina em relação aos homens quando estas estão de alguma
maneira indefesas e expostas, como em um bar ou um pub e são induzidas a os acompanharem.
Pontuando com precisão todos os erros corriqueiros cometidos pelos homens e não
os absolvendo em momento algum. Outro ponto relevante é que as mulheres que
participam do projeto evidenciam com proeza as consequências que essas
circunstãncias ocasionam nas mulheres, explorando ao máximo os traumas e
feridas pelo qual essas vítimas são obrigadas a transcorrer ao longo de suas
vidas e que o que para os caras é apenas um momento de prazer para elas passa a
ser um divisor de águas entre ter uma vida mentalmente saudável e não ter
mais.
O filme também trabalha com nuances, e
traz diversos questionamentos e reflexões, principalmente, para nós, homens.
Nem tudo é no preto e branco. Você pode o ser o cara mais desconstruído do
universo, mas ainda assim indiretamente ter culpa no cartório, como acontece
com o namoradinho de Cassie, Ryan (Bo Burnham), afinal, estamos sempre
aprendendo e nos desconstruindo.
Com um leque diverso de referências
feministas de filmes que impactaram a cultura pop, como Kill Bill (2003-2004),
Doce Vingança (2010-2015) e até elementos de Aves de Rapina (2020), o
desenrolar da história é bárbaro, de roer as unhas. Amo como eles construíram a
história em capítulos e cada um correspondia a uma vingança diferente, quer
algo mais Tarantino, que isso? Aliás, eu só não digo que é um filme do tio
Quentin, exatamente pela falta de mortes em demasia, característica tão típica
dele, porque do contrário, se encaixaria como uma luva.
As atuações estão muito boas, Carey
Mulligan é com certeza, uma das melhores atrizes da nova geração de atrizes, e
digo e repito, se não for dessa vez que ela ganhará o Oscar, ainda chegará o
seu momento. Foi bom rever atores que eu não via em outros projetos há algum
tempo como Laverne Cox (Orange is the New Black), Jennifer Coolidge (American
Pie), Adam Brody (The OC), dentre outros, contudo nenhuma interpretação para
mim realmente teve relevância ou aprofundamento o suficiente como a da
protagonista. O longa não dá espaço suficiente para os coadjuvantes brilharem,
o que não é um problema propriamente dito, apesar de eu ter sentido falta de
conhecer mais os personagens secundárias e suas motivações (mesmo a maioria
delas sendo injustificáveis).
Com uma variada trilha sonora, que vai
de Charlie XCX a uma versão diferentona de Toxic da Britney Spears, você não
consegue parar de assistir o filme. Fiquei tão vidrado, entrei na história de
uma maneira tão absorta que o final do filme chegou e eu nem vi. Você se
emocionará, sentirá ódio, raiva, tristeza, se compadecerá com a mocinha, e
sobretudo, irá pensar duas, três vezes, sobre como tratar uma mulher, sobre o
que é aceitável e o que não é aceitável.
Considerado um dos prediletos ao Oscar
2021, e já na minha lista de grandes indicações, Bela Vingança (Promising Young
Woman) se consolida como o filme que todo homem deveria assistir.
E vocês, curtiram o filme? Carey vai
conseguir ou não a tão sonhada estatueta dourada? Deixe o seu
comentário.
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