Dirigido por Kornél Mundruczó e
roteirizado por Kata Wéber, o filme nos traz Martha Weiss (Vanessa Kirby) uma
mulher que sofre a perda de seu filho ao participar de um parto humanizado e
tem como dilema processar ou não a parteira, tudo isso, enquanto passa por
crises em seu casamento e em seu relacionamento com a sua família.
Primeiro devo dizer que as cenas são
todas muito bem dirigidas, principalmente as cenas do parto, são uma coisa de
louco. Tanto no sentido visual quanto no sonoro e na atmosfera que eles
conseguem criar acerca do procedimento. Mesmo tendo lido a sinopse do filme e
sabendo o que aconteceria, eu me mantive tenso do começo ao fim do parto. Muito
disso se deve ao fato de muitas cenas do longa serem filmadas em plano
sequência e planos fechados, o que cria uma proximidade muito maior de nós
telespectadores com os atores e situações que os cercam, nos passando uma
realidade e nos fazendo sentir parte do arranjo final.
Um artifício que foi utilizado e que eu
gostei muito foi o fato de terem deixado o nome do filme aparecer na tela
apenas trinta minutos após o longa ter se iniciado, indicando que tudo o que
vimos anteriormente foram apenas uma profusão de imagens e cenas fortes que não
fazem parte da história central, evidenciando que a trama na verdade começa
apenas após os eventos traumáticos vividos pelos personagens.
As atuações estão excelentes, apesar de
não conhecer muito o trabalho de Vanessa Kirby e ter visto apenas filmes mais
superficiais que não exploraram muito da atriz, confesso que eu amei vê-la
entregar tudo de si. Nunca é fácil e simples interpretar cenas que exigem tanto
emocionalmente de alguém como um parto, ainda mais quando ele acaba da maneira
que acaba. Shia LaBeouf que interpreta o marido Sean Carson, está ótimo no papel
de homem problemático e ex viciado que tenta com unhas e dentes sobreviver à
perda da filha e manter intacta a sua relação com a esposa. O elenco coadjuvante
é preenchido com nomes como Ellen Burstyn, Iliza Shlesinger e Molly Parker,
essa primeira interpretando a mãe de Martha, Elizabeth Weiss, uma mulher que
consegue manipular as pessoas à sua volta e com o seu poder aquisitivo comprar
o incomprável, apesar da premissa antagonista que a personagem carrega eu não
consegui odiá-la o suficiente e a atriz cumpre muito bem com o papel.
O roteiro consegue com muita delicadeza
e nuances nos trazer a realidade de pais que perderam os seus filhos e como um
fatídico acontecimento como esse revira a vida de todos os envolvidos de pernas
pro ar. Relações são estremecidas, verdades questionadas, certezas fraquejadas.
E é esse o verdadeiro trunfo de Pieces of a Woman, eles sabem trabalhar com as
emoções, eles sabem trazer à tona a dor sem parecerem exagerados, piegas,
descomedidos. Você entende cada personagem, você torce por cada um deles, e
mesmo quando eles trabalham com o luto, eles também trabalham com a vida. Não é
uma história meramente sobre perder, é uma história sobre refletir, repensar,
cometer erros, aceitá-los e voltar atrás, pois esse é o dilema da protagonista,
ela sabe que o erro não cabe apenas à parteira, o erro talvez também tenha sido
dela ao optar pelo parto humanizado ao invés de ir à um hospital, o erro às
vezes nem realmente existe, tendo em vista que nem os laudos médicos
conseguiram explicar o motivo concreto da morte do bebê. Existe essa
preocupação e cuidado ao demonstrar que nem tudo tem uma explicação ou um
culpado.
Eu entrei na história a ponto de quase
não piscar o primeiro ato inteiro. O desenvolvimento é bem construído, amo a
alusão que eles fazem da construção da ponte com o tempo que passa na história,
deixando nítida a mensagem de inconstância e mudanças, de que as coisas estão
sempre caminhando, nada nunca permanece o mesmo e o mais importante, nada nunca
volta a ser como já foi um dia.
Cotado às grandes premiações de 2021,
sobretudo nas categorias de atuação, resta a nós apenas aguardarmos para ver se
a academia será generosa com essa modesta, porém profunda história.
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