Usufruindo de muito fan service,
finalmente está entre nós a quarta e derradeira parte das aventuras da bruxa
mais famosa do mundo.
Vou avisando de antemão, que estou me
sentindo extremamente frustrado com tudo o que eu vi e não pouparei spoilers,
portanto se vocês não assistiram esse não é o post para vocês.
A dualidade que Sabrina(Kiernan Shipka)
vive desde a primeira temporada é rompida ainda no final da temporada anterior
quando o ciclo da Sabrina do futuro salvando a Sabrina do passado é cessado,
dessa maneira, ambas passam a coexistir ao mesmo tempo. É decidido que uma
viverá a vida normal de Spellman e a outra viverá no inferno com o seu pai
Lúcifer, sendo a Morningstar, acabando finalmente com a dicotomia e os dilemas
da personagem que não queria deixar os amigos e família de lado e tampouco
desistir do poder que intrinsecamente lhe coube tão bem, o de futura rainha do
inferno.
Ao seguirmos a lógica de viagem no
tempo, não fica difícil imaginarmos a confusão que tudo isso
ocasionará.
O grande problema desta temporada não é
a previsibilidade em relação às consequências dos atos duvidosos da
protagonista, mas sim ao fato do roteiro que peca na desconexão de
situações.
Toda temporada de O Mundo Sombrio de
Sabrina tem um episódio "especial", que também são episódios
conhecidos por não fazerem muita diferença na temporada, são apenas episódios
que exploram um tema específico à parte do enredo principal desenvolvido até
então. Na primeira temporada temos o monstro do sono e na segunda temos a
taróloga que aparece do nada em Greendale e lê o futuro de cada um dos
personagens principais se não me engano, enfim, nessa quarta parte, podemos
dizer facilmente que toda a temporada consiste em episódios especiais tamanha a
incoerência temática, cada um trazendo um monstro diferente. Não me levem à
mal, seria interessante de se ver caso estivéssemos em uma temporada intermediária
e experimental, contudo trata-se de uma conclusiva onde cada segundo vale mais
que ouro e até o episódio seis, mais ou menos, não havia um único elemento que
me fizesse enxergar um resquício de que o iminente fim definitivo estivesse
próximo.
O gancho do monstro do lago e do ovo,
que foi deixado em aberto no final da parte três não foi continuado nessa temporada, outro grande erro e esquecimento por parte de Roberto
Aguirre-Sacasa, roteirista e desenvolvedor do projeto junto com a Netflix.
A impressão que eu tive assistindo é
que não houve preocupação e cautela em desenvolver algo conciso, os monstros
eram todos jogados um a um, episódio por episódio, e eu sempre me questionando
aonde que tudo aquilo iria nos levar, se no final das contas, como por um
milagre todas as situações se uniriam em um belo centro auto-explicativo. Algo
como aconteceu na série The Witcher (2019), por exemplo, que nos trouxe
fragmentos da história, mesmo que em linhas temporais diferentes e as uniram em
um único, porém translucido núcleo. Fui muito ingênuo mesmo, a coisa só foi
piorando.
Os personagens por si só muitas vezes
refletiram a incoerência do autor, transpareceram não saber bem o que queriam,
Sabrina no final de um episódio queria levar as coisas com calma e não se
entregar novamente a Nicholas (Gavin Leatherwood), no começo do episódio
seguinte já estava mais que entregue aos seus braços. Theo (Lachlan Watson)
termina o seu namoro com o duende Puck (Jonathan Whitsell) por não querer que
ele deixasse o seu mundo de lado, mas logo no episódio seguinte, do nada,
reatam o namoro. Caliban (Sam Corlett) quer destituir Lilith (Michelle Gomez)
do poder e arma um plano para matar o bebê, mas acaba ocasionando no parto
prematuro do filho dela e depois nunca mais é dito nada sobre os planos do dito
cujo. Lilith, ao se sentir ameaçada por Caliban no inferno procura por abrigo e
ajuda das bruxas que agora seguem a deusa Hécate, assim que nasce o seu
primogênito ela o mata na primeira ameaça que Lúcifer faz à ela, mesmo tendo
muitas outras maneiras de se resolver o problema. Mambo Marie LeFleur (Skye P. Marshall) que
estava desempenhando um papel importante na academia das bruxas e no seu relacionamento
com Zelda Spellman (Miranda Otto) revela que não é quem diz ser e sim uma entidade. Ross (Jaz Sinclair) descobre que é uma bruxa, mesmo isso sendo óbvio desde a primeira temporada.
Harvey (Ross Lynch) que não aceitou Sabrina por ser uma bruxa, milagrosamente aceita Ross,
por quê? Não faço idéia, sendo que o amor que ele sentia por Sabrina era muito
maior.
Gente, é muita contradição e loucura
para um roteiro só, Roberto não estava em plena consciência de seus atos e não
aceito explicações.
Os poucos momentos do show em que
consegui me divertir e ver alguma coesão de ideias foram os momentos em que
Sabrina Morningstar e Sabrina Spellman interagiam uma com a outra. As conversas
sempre francas e profundas, eram um eufemismo para o autoconhecimento que todos
nós, seres humanos precisamos explorar dentro de nós, afinal, existe melhor
ouvinte e conselheiro que nós mesmos?
Outra sacada legal foi a participação
das tias da Sabrina Aprendiz de feiticeira (1996-2003) e o velho e falante gato Salem, a forma como eles foram introduzidos na série foi inteligente e teria salvo
a temporada se ela já não estivesse suficientemente machucada. Apesar de legal,
acredito também que a empreitada foi utilizada na hora errada, tendo em vista
que no momento final esperávamos algo mais focado na Sabrina e seus
coadjuvantes que nos foram apresentados nesta nova versão e não em relíquias
dos anos noventa.
Os momentos musicais da série também
foram sacadas boas e sou suspeito, afinal de contas, gosto muito de séries
teens que envolvam situações acopladas à música. O casamento da tia Hilda (Lucy Davis) foi outro elemento que trouxe leveza e momentos de emoção que me agraram muito.
Não obstante, nem as conversas, nem o
outro cosmos e muito menos as belas canções conseguiram amolecer o meu coração
e me preparar para o que estava prestes a vir, quisera eu ter evitado esse
desprestígio, a cena em que na vida pós-morte, Sabrina reencontra
Nicholas que não aguentou perder a sua amada e suicidou-se. É
pieguice que vocês queriam meu povo?
Gente, como eu adoraria uma
quinta parte, não por amar o que aconteceu nessa, mas pelo fato de ter a
esperança de um possível reparo e explicação de coisas que, na minha opinião
deixaram a desejar.
Com um final trágico e estúpido, O
Mundo Sombrio de Sabrina se consolida para mim como o pior final de série já
feito, nem Lost (2004-2010), conseguiu me desapontar tanto.
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