Eu não conhecia a história de Constance
McMillen, a verdadeira Emma que no ano de 2010 foi proibida pelo conselho de
sua escola a comparecer no baile de formatura com a sua então namorada, isso no
estado de Mississipe. Com a evidência do novo filme do Ryan Murphy (Glee,
American Horror Story), e pesquisando um pouco mais sobre a história, chegamos
à conclusão que The Prom, nos traz não somente grandes nomes e ótimos números
musicais, como também muito o com o que se refletir e pensar.
Inspirado no musical homônimo da
Brodway, o show que fez tremendo sucesso desde meados de 2016 nos palcos do
famoso teatro, dessa vez surpreende no formato longa e revela que sim, filmes
inspirados em peças musicais podem e devem ser realizados!
A introdução do filme é bem Ryan
Murphy, me fazendo retornar à adolescência, na época em que eu assistia à Glee.
Fiquei esperando o momento em que os jovens começariam a tacar slime uns nos
outros (o que não acontece, ufa.. rs). Apesar do impecável trabalho com os atores
jovens como a protagonista Emma interpretada por Jo Ellen Pellman e sua
namorada Alyssa (Arina DeBose), a cereja do bolo é o tão aguardado elenco
"maduro", constituído por nomes como James Corden, Nicole Kidman,
Andrew Rannells e por último e não menos importante Meryl Streep.
Juntos eles nos contam a história de
uma trupe de atores falidos da Brodway que veem na história de Emma, a
oportunidade perfeita para se promoverem e voltarem aos holofotes da fama e
sucesso.
Uma crítica assídua às celebridades
contemporâneas que para mim é assertiva, tendo em vista que estamos vivendo um
tempo de muitas causas e levantamento de bandeiras, onde a celebridade que se
abstém de ter um posicionamento acaba automaticamente sendo cancelada ou
esquecida. E também trazendo à tona assuntos relacionados à Pink Money, que
trata-se de dinheiro proveniente do público LGBT e o quanto artistas de
"má fé" utilizam de artifícios para conseguirem mais e mais esse tipo
de grana e fama.
Mesmo sem conhecer a peça tive um
receio com a ideia de um novo filme seguindo os passos de algo já concreto e
famoso. Preocupação essa que foi completamente rompida logo no primeiro número
com os quatro atores veteranos.
James Corden é brilhante em tudo que
faz, seu personagem Barry Clickman é o famoso gay rejeitado pela família, e
apesar da afetação que senti em alguns momentos em sua atuação, consegui
entender que a proposta do seu personagem era exatamente essa. Ver Meryl na
pele de Dee Dee Allen foi divertido do começo ao fim, tá aí uma atriz que sabe
o que faz, que se entrega na medida certa, sem dizer que ver a desconstrução da
personagem ao decorrer do longa conseguiu ambiguamente me fazer sorrir e me
emocionar.
Nicole Kidman por sua vez, foi deixada
um pouco de escanteio, nos entregando uma personagem xoxa e medíocre, a atriz
Angie Dickinson, mas realinhando, eu não assisti a peça e é possível, muito
mais que provável que esse é mais um problema de roteiro do que realmente de
Nicole, afinal de contas, a personagem era apenas um rosto bonito com poucas
oportunidades na vida. Andrew Rannels pode até ser um ator indicado duas vezes
ao Tony Awards (maior premiação direcionada à peças de teatro e musicais),
entretanto ele sempre parece fazer o mesmo personagem, seja na série da HBO
Girls ou no filme Boys in the band. Dessa vez na pele do aspirante à ator da
Brodway, Trent Oliver, ele se entrega um pouquinho mais e existe um certo
esforço em fazer algo diferente, não digo que ele tenha conseguido com êxito,
mas pelo menos não fiquei me lembrando toda hora do Elijah (Girls
2012-2017).
Apesar de aparecer pouco, as aparições
da antagonista do filme, Mrs. Greene, interpretada perfeitamente pela intrépida
Kerry Washington é depois de Meryl a minha atuação predileta. Kerry traz todos
os mais desprezíveis traços de uma mulher preconceituosa, mente fechada e
metida à sabichona que odeia ser contrariada e levanta a bandeira do
conservadorismo.
A direção de Ryan é muito satisfatória,
a fotografia e cores são ricas, nessa obra o glamour e breguice tão clichês dos
verdadeiros musicais não estão deixados de lado.
As músicas são contagiantes, você vibra
a cada situação que apesar de bastante previsíveis, são muito bem construídas e
desenvolvidas, sem deixar pontas soltas. Como dito anteriormente, é nítido a
diferença dos personagens do começo do filme ao seu final.
É com maestria que as pequenas
histórias são trabalhadas paralelamente e no final se encontram em uníssono,
sem pieguices e extremos (na medida do possível, afinal estamos falando de um
musical).
Como um presente de fim de ano, a
parceria entre Ryan Murphy e Netflix não decepcionou, nos proporcionando
momentos de diversão, dinamicidade, profundidade e muitas reflexões e não me
surpreenderia se por aí viesse uma indicação ao Globo de Ouro ou quem sabe até
mesmo ao Oscar.
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