Dirigido por David Fincher e escrito
pelo seu próprio pai, Jack Fincher, Mank nos relata os bastidores turbulentos
do que hoje é considerado um dos melhores filmes já inventados, o clássico
Cidadão Kane.
Na história é relatado como Herman J.
Mankiewicz (Gary Oldman), foi o verdadeiro responsável por escrever o roteiro
do filme, diferentemente da versão com a qual estamos habituados, a de que
Orson Welles (Tom Burke) foi o responsável pela história. No filme fica claro o
que ocorreu durante a produção do roteiro, as picuinhas de Herman com os seus
chefes da MGM (Metro-Goldwyn-Mayer), que é uma empresa norte-americana de
comunicação de massa, envolvida com a produção e distribuição de filmes e
programas televisivos e principalmente a sua antipatia por William Hearst
(Charles Dance), o chefe dos chefes.
O filme é ambientado nos anos trinta,
foi gravado todo em preto e branco nos remetendo obviamente ainda mais ao
Cidadão Kane (1941). A produção do filme é muito sofisticada e nos traz todas
as características típicas dos filmes de época, desde o vestuário, aos efeitos
sonoros e visuais.
É lindo de se ver como eles souberam
trabalhar com a temática anos trinta de maneira tão ampla, desde os elementos
mais pessoais aos mais sociais, digo isso, pois a história por mais que fechada
nos dramas de Herman com os seus superiores e vícios, trata de temas como
política, economia, saúde mental e por último e não menos importante, cinema!
Para os fissurados pelo universo
cinematográfico, Mank é uma obra de arte de encher os olhos, daquelas que você
assiste sem piscar.
No começo do longa nos deparamos com fatos
interessantes, como um marco histórico, o início de transição do cinema mudo
para o falado e como isso pesou na época para muitos artistas, também vislumbramos
a maneira como os estúdios trabalhavam, como os roteiristas se reuniam para
discutir os temas dos mais variados filmes e até mesmo a relação dos estúdios
com os seus artistas. Na época o artista firmava contratado fixo com os
estúdios e só podiam trabalhar com eles, mais ou menos como funcionam as
emissoras de televisão aqui no Brasil.
Ao adentrarmos a vida de Mank, também
adentramos, mesmo que indiretamente, a Cidadão Kane e aos poucos começamos a
entender como o tão famoso personagem foi se estruturando em sua mente, afinal
de contas, o clássico não passa de uma sátira de Hearst, seu chefe, e como o
mesmo lidava com as notícias e os conglomerados jornalísticos pelo qual era
responsável na época. Ao mexer com um homem tão poderoso, os estúdios não
queriam se comprometer com o longa, recebendo recusas de todas as partes, até
que quase por um milagre, Orson apareceu, e acreditou em seu trabalho. No
início, Herman acordou que não gostaria de levar nenhum crédito por seu
trabalho, no entanto, não é bem o que aconteceu.
O elenco cumpre bem o seu papel, além
de Oldman, algumas artistas renomadas como Amanda Seyfried que interpreta a
atriz Marion Davis e Lilly Collins que interpreta Rita Alexander, uma
assistente de Herman também fazem parte do elenco. Amanda, inclusive, está super
cotada para o Oscar de 2021 pelo papel, será que vai rolar? Não me surpreenderia
se Oldman também fosse indicado, afinal, não teve uma vez sequer que eu não
acreditasse que ele é o verdadeiro Mank, apesar da pouca semelhança física com
o verdadeiro, ele mandou muito bem (como sempre né) rs.
O filme me encantou e apesar de alguns
contextos históricos terem me confundido um pouco à princípio, como quando usufruíram
muito de política, toda aquela questão do partido republicano e democrata, e o
burburinho dos estúdios estarem se mudando para a flórida por causa dos
comunistas, me pegou um pouco de surpresa, entretanto parando para pensar,
foram muito bem inclusos no filme, sem essas ocorrências teria faltado algo
tendo em vista que todas aquelas distorções políticas proporcionadas pelos
estúdios foram um dos estopins para o surto que motivou Mank a escrever o seu
tão aclamado roteiro.
A Netlix não é boba e sabe que filmes
que falam de filmes é sinônimo de indicações, proposital ou não, Mank se
consolida como o filme predileto para a próxima temporada de entrega de troféus
e seria estúpido da minha parte não torcer por tais indicações, tendo em vista
que estamos falando de um filme se não atrativo aos olhos, bastante instrutivo
em relação a como esse mundo dos negócios e cinema funciona.
Vale lembrar que o roteiro foi escrito
em meados dos anos noventa por Jack Fincher, porém recusado por diversos
estúdios. Após a sua morte, em 2003, e na posse de seu igualmente
talentoso filho, David, o moço conseguiu finalmente tirar o projeto do papel e
construir algo grandioso, não seria louvavél levar uma indicação de melhor
direção no Oscar? Estou muito na torcida.
Mank, no entanto, não é para todo
mundo, em alguns momentos parece ser prolixo demais, rebuscado demais, se você
não conhece um pouco da história de cidadão Kane pode boiar um pouco (foi o que
aconteceu comigo), contudo conforme vai se aproximando do terceiro ato, tudo
vai se encaixando e finalmente você entende o que tá ocorrendo ali. Para os
admiradores da sétima arte, cada segundo vale à pena, pelo classismo, estética,
beleza e o mais importante imponência da obra.
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