Baseado na peça homônima de 1984,
Dirigido por George C. Wolfe (Noites de Tormenta) e roteirizado por Ruben
Santiago-Hudson (Castle), A voz suprema do Blues conquista e encanta pela
intensidade e atuações excepcionais.
Ambientada no começo do século passado,
a história nos apresenta Ma Rainey (interpretada por Viola Davis) uma das
artistas pioneiras de blues, inclusive denominada atualmente, a mãe do
Blues.
A obra basicamente consiste em uma
sessão de gravação de uma música e como era trabalhar com a diva, mas não
deixem-se enganar, é muito mais que isso.
O elenco é formado por nomes como
Chadwick Boseman, Colman Domingo, Glynn Turman, dentre outros.
Comecei a assistir como quem não quer
nada, claro que a presença de Viola como a protagonista chamou a atenção,
entretanto, acabei me deparando com uma das melhores obras feitas pela Netflix.
É incrível como eles pegaram um simples episódio da vida da personagem e dali
extraíram reflexões, filosofia e muitos, mas muitos monólogos de impacto.
Para começar, não é inédito, porém
sempre intrigante ver como a indústria da música funcionava sob uma perspectiva
de uma mulher negra do início do século passado, ter essa experiência, mesmo
que pela tela da televisão é revelador, nem tudo eram flores, nem mesmo para a
rainha do Blues.
Um ponto alto para mim é quando a
protagonista perde a pose e assume possuir a posição de alguém que demanda muito
de seus produtores brancos, que exige e ordena coisas demais deles, mas que
tudo isso se deve ao fato dela saber que está no lugar para isso e que após a
gravação, após fazerem o que quisessem com ela, ela voltaria a ser apenas mais
uma mulher negra comum, esse é o ponto que nos faz refletir realmente sobre a
maneira como os artistas negros da época eram explorados e camufladamente
tratados. Ver a indústria sob essa ótica é assustador, porém irrefutavelmente crucial
para que entendamos a vivência da protagonista de maneira ampla e panorâmica,
não apenas a Ma Rainey artista, aquela dos holofotes, mas também a Ma Rainey mulher!
O que significava ser ela e não simplesmente romantizar o negro artista da
época como se por um milagre eles não fossem alvo de racismo.
Usufruindo de seus coadjuvantes e nos
entregando um enredo regado de muita sensibilidade e nuances, a trama se
fundamenta em diversas pequenas observações sobre o funcionamento social da
época (infelizmente muito desses aspectos presentes até os dias de hoje,
inclusive). Como, por exemplo, quando o personagem Toledo interpretado por
Glynn Turman, faz a sua alusão da sopa e de como os negros são tratados ou
quando no clímax do filme Renee, personagem do Chadwick Boseman prefere atacar
um de seus ao invés de atacar um branco, somos levados a olhar para dentro de
nós mesmos, nossas próprias sombras enquanto assistimos a essa cena, afinal de
contas é muito mais fácil atacarmos um outro oprimido do que o nosso opressor
de fato.
Este último por sinal, é a grande
revelação do filme, Chadwick brilha do primeiro take ao último e não me
surpreenderia se viesse uma indicação póstuma aí. Não por solidariedade, mas
sim por talento, o mais tangível dos talentos. Ele é o personagem coringa da
obra, aquele que nos faz rir, vibrar e odiar.
A história tem o desenvolvimento muito
bom, é gostosa de assistir. A uma hora e meia passa de maneira
imperceptível, alternando de momentos de descontração e momentos de
seriedade, tornando as injustiças não aceitáveis, mas mais palatáveis.
A produção está toda muito bem
alinhada, desde as roupas aos cenários de época. Deu para ver o esmero que
tiveram com todos os pormenores, cumprindo com critérios que cabem facilmente a
qualquer filme que já passou pelas mãos da academia de artes.
De maneira holística, o filme supre
todas as expectativas e nos entrega aquilo que promete, como eu disse,
conseguiram subverter um simples episódio em algo de real valor e significado
para todos nós. Com todo esse movimento Black Lives Matter, não poderia
ter chego em melhor hora.
Tenho uma queda por séries intrigantes, principalmente as que retratam situações do nosso passado! Obrigado, estava esperando uma boa crítica pra saber se vale a pena assistir, apesar da identidade visual chamar bastante minha atenção...
ResponderExcluirOi Thi, assista sim, vale muito à pena! Valeu por comentar!
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