A comédia nunca conseguiu ser tão
dramática! Criada por Dave Holstein e dirigida por Michael Gondry, Kidding é uma
série produzida pela Showtime, produtora responsável por séries como Shameless
e Homeland e nos apresenta um apresentador de programa infantil que precisa
lidar com uma crise existencial após a morte de seu filho.
Protagonizado por Jim Carey (um dos meus atores prediletos rs), sendo esse o
terceiro trabalho conjunto dele com Gondry, eles já trabalharam juntos em
Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004) e no curta
metragem Pecan Pie (2003). Dessa vez Jim é Jeff Pickles, um ícone infantil, uma
criança no corpo de um adulto, um poeta no corpo de um apresentador, um
filósofo no lugar de um homem desorientado de meia idade, que com uma perda
irreparável é obrigado a questionar valores, ideias e relevâncias!
Essa série estava na minha lista desde que eu vi o trailer em meados de 2018,
porém procrastinei bastante para assisti-la. Esperei sair as duas temporadas
inteiras para maratonar e agora explicarei os motivos pelos quais todos
deveriam assistir a essa obra prima!
Kidding trata-se sobretudo sobre luto, sobre como reagir, lidar, sentir o luto.
Vários questionamentos são trazidos à tona ao longo de vinte episódios (cada
temporada tem dez episódios). Questionamentos como a maneira ideal de se
abordar esse assunto com as crianças, o marco que é em nossas vidas quando
perdemos alguém e como necessitamos nos reformular como seres quando uma
tragédia desse escalão ocorre. Tem pequenos resquícios também sobre direitos
autorais, como o divórcio pode afetar a vida de um artista quando esse é casado
em comunhão universal de bens. Sem dizer é claro a crítica social assídua por trás
de tudo isso, como funciona os sets de um programa alegre e infantil matutino,
será que o apresentador é o que aparenta ser? Será que as coisas são como parecem ser?
Eu não diria que chega a ser uma espécie de The Morning Show (2019), sendo que
eles focam muito mais em perdas, em família e assuntos intimistas, mas é tão
valorosa quanto.
O roteiro é bem construído desde o início, tem um ritmo contínuo e o mais
importante, não enrola. Por terem episódios compactos de vinte e cinco minutos
a no máximo trinta, a série acerta na sua maneira de contar história. Não
existe redundância, não existe exagero, não existem hipérboles em relação a
essa produção. O personagem central sofre, mas sofre sutilmente de sua própria
maneira. As aberturas são hiper interativas nos remetendo a aberturas de
programas infantis, e falo no plural pois eles sempre fazem questão de mudá-la
fazendo uma breve alusão aos fatos que estão prestes a ocorrer no episódio.
As temporadas se complementam e dão a sensação de serem apenas uma pelo fato da
segunda começar exatamente do ponto em que a primeira termina, então se vocês
assistirem tudo de uma só vez é capaz de nem perceberem essa transição.
Pelo fato de se tratar de uma temática infantil eu me preocupei muito com
o exagero de cores, vestuários e "magia", sobre como isso poderia ter
deixado a história mais carregada e consecutivamente cansativa para nós
telespectadores, contudo como citado anteriormente, isso não ocorreu,
eles souberam medir bem todos esses elementos.
Em alguns episódios houveram sim uma certa variação, como números musicais e
algo mais lúdico, mas novamente, tudo da maneira mais suave e gostosa de se
assistir possível!
O elenco é um dos aspectos que mais me chamou a atenção, vários artistas que eu
gosto juntos é um prato cheio para uma boa maratona! rs... A irmã de Jeff e
também produtora do programa infantil, Deirdre foi muito bem interpretada pela
atriz Catherine Keener (Modern Love, O virgem de 40 anos), inclusive em cenas
musicais, percebe-se que esse não é o forte da atriz, mas ela vai e arrasa!
Outro nome que eu amo é Judy Greer (De repente 30, Vestida para casar) que
interpreta a esposa , ex esposa para ser mais exato de Jeff. Ambas mulheres
fortes e passando bastante estresse, a primeira descobre a homossexualidade de
seu marido e fica num dilema, se divorciar ou não se divorciar, a outra, assim
como o ex-marido, arranja maneiras de se virar e reformular com a abrupta
partida de seu filho.
Frank Langella (Drácula, Frank e o robô) é o impiedoso e pragmático pai de
Jeff, Sebastian Piccirillo. Aqui temos o mais perto de um "vilão" que
a série nos apresenta, isso porque o personagem nos passa aquilo que o resto
evita a todo o custo, os pés bem grudados no chão! Vendo a incapacidade do
filho em manter o programa de televisão nos padrões normais, o velho logo começa
a caçar alternativas para manter o Jeff Pickles que a criançada aprendeu a amar
vivo, cogitando substituí-lo, seja por animação, seja por boneco, não importa,
o que é de valor realmente é o lucro e o programa que precisa continuar.
É claro que nem tudo é no preto ou branco, a série nos traz uma paleta inteira
de cores e tons pelo qual todos transitam e está tudo bem! Afinal, viver é
transitar.
Me diverti, ri e chorei simultaneamente, impossível não se emocionar com a
sensibilidade e zelo com que os criadores da série relatam todos os
acontecimentos, e que mesmo nos momentos de mais injustiças e iniquidades,
conseguimos entender cem por cento os motivos de cada um dos personagens por
agirem como agem, por sentirem como sentem.
Ver essa faceta de Jim Carrey, mesmo que não inédito, é sempre um presente! Ele
cumpre o seu papel com tamanha desenvoltura que a indicação ao Globo de Ouro
2019 na categoria de melhor ator em série de comédia foi pouco!
Kidding é uma boa série para se assistir com a família! A série é encontrada na
plataforma de streaming Globoplay.
E vocês pretendem assisti-la? Já assistiram? Deixem o seu comentário!
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